Evita os apegos e as adições


Sempre que se recorre um longo caminho, mesmo que a recompensa seja saborosa e desejável, passa por momentos difíceis. Conjunturas nas quais tudo parece ladeira pra cima. Como muitos, em alguns momentos tenho a sensação física de que meu corpo já não resiste, sobre tudo si o que segue se apresenta como o começo de uma altura difícil de escalar. São tempos nos quais necessariamente passa por nossa mente a tentação de ficar no lugar não qual chegamos e esquecer do objetivo.
As circunstancias são diferentes daquelas nas quais devíamos permitir-nos descansar e festejar. São tempos nos que percebemos que o descanso não alcança e que as forças fraquejam. Tempos nos que seria bom voltar a parar, porem esta vez para revisão do equipamento.

No pessoal, nesses momentos que considero fundamentais, sempre descubro que na minha mochila uma dezena de coisas que tenho que seguir levando e que estão aí porque alguma vez me foram uteis, porque alguém me pediu que levasse, porque acreditei que eram imprescindíveis, porque o coração não me deixa abandoná-las no caminho, ou simplesmente por se acaso.

Se penso um pouco, me dou conta de que todo esse peso terminará impedindo minha marcha . É o lastro do que não serve, a carga do que não é imprescindível se comparo o esforço que supõe com o beneficio que oferece.
Assim funciona a tonta atitude de carregar com o passado, com o velho, com o ranço... e ladeira pra cima.
Quando falo de dar o passo de desfazer-se do desnecessário, não me refiro a jogar no lixo a bússola que meu avô me deu de presente que segue sendo tão pouco útil como antes, mesmo que eu a adore. Falo dessa segunda bússola que comprei a um preço que não valia, apaixonado pelo bronze e das letras de prata; essa lindíssima bússola que nunca se sabe donde aponta e que também levo na mochila, se sou sincero, mais pelo que paguei por ela que pelo que me serve.

Muitos mestres do Oriente nos ensinaram que somos seres espirituais e que todos nossos desejos terrenais não são mais que a sombra que nossos corpos materiais projetam sobre a terra.

Acompanhado dessa metáfora, me perguntei um dia se esse planteamento não está a explicação de muito, senão de tudo, o que passa.

Imaginemos que eu decida, sendo fiéis as pautas que a educação de nossa sociedade de consumo soube me inculcar, correr detrás da possessões que ambiciono ou que se correspondem com minha posição social, segundo as pautas do meu entorno e época.

Se eu representara essa atitude a luz da metáfora levantadas, seria o equivalente de tomar a decisão de correr detrás da minha sombra.

Agora bem, se qualquer estúpido tomara essa decisão , que passaria?

Primeiro, nunca alcançaria o que persegue.

Segundo, cada vez estaria mais longe.

Terceiro , o perseguido seria cada vez mais grande.

Cada vez mais grande, cada vez mais longe e com garantia de fracasso...Não existe pior verdade?

Porém que passaria si agora mesmo me dera conta e, girando sobre meus passos , decidira caminhar rumo à luz, a sombra desaparecerá por completo.

Este é o caminho deste passo, deixar de correr detrás da sombra do nosso desejo de possuir, acumular, de ter. Caminhar rumo à luz e deixar que as coisas que desejo me siga até alcançar-me.

Este passo se refere a desfazer-se de todo tipo de adições, coisas, pessoas, condutas, atitudes, ideologias. Refere-se a desapegar de tudo o que, de alguma maneira não é teu.
O único que verdadeiramente te pertence é aquilo que não poderias perder em um naufrágio, dizem os sufís.

E na lista daquelas coisas que seguramente se poderiam perder, começamos por agregar nosso ego vaidoso e narcisista.

Isso que te conto aconteceu realmente.

Em uma escola de crianças especiais, que tinham em comum padecer síndrome de Down, se organizou na primavera uma jornada de olimpíadas.

Todos os alunos participavam ao menos em alguma competência, e muitos deles em mais de duas.

O fim da tarde era a pista central da escola, donde se correria a Carrera de cem metros lisos diante dos pais e convidados.

A corrida tinha dez corredores que tinham entre 8 e 12 anos de idade. O professor de educação física tinha reunido a todos uns minutos antes e, com critério educativo tinha falado:

_Jovens, apesar de ser uma corrida, o importante é que cada um de vocês dê o melhor de si. Não é importante quem ganhe a corrida, o que verdadeiramente importa é que todos cheguem ao final. Entendieran?
_ Sim, senhor _responderam as crianças de uma só voz.

Com grande entusiasmo , e com a gritaria familiar,companheiros e professores, os corredores se alinharam para a saída. E depois do clássico “já” , o professor de ginásio disparou uma bala de fogueio no céu. Os dez começaram a correr e, desde os primeiros metros, dois deles se separaram do resto, liderando a competição.

De repente, a menina que corria em penúltimo lugar tropeçou e caiu.

O raspão no joelho foi menor que o susto, porém a menina chorava pelas duas coisas.

O jovenzinho do último lugar se deteve a ajudar, a ajoelhou a seu lado e beijou o joelho lastimado. O público que se tinha colocado de pé se tranqüilizou ao ver que não tinha passado nada grave. Contudo, os outros meninos, todos eles, se giraram para trás e ao ver seus companheiros, retrocederam. Ao chegar, consolaram a jovenzinha, que cambiou seu choro num sorriso quando, entre todos, tomaram a decisão. O professor tinha falado que o importante não quem chegava primeiro, assim que entre todos levaram sua companheira e romperam o laço de chegada todos a mesma vez.

O jornal local colocava a nota do dia seguinte, com toda precisão:
“ A emoção mais intensa das olimpíadas especiais de ontem foi a corrida dos cem metros lisos. Se você não esteve pergunte aos assistentes, “quem ganhou?”. Não importa quem seja interrogado, me animo a assegurar que receberá sempre a mesma resposta:”Essa carreira , ganhamos todos”.”

Pode que nos coloquemos vermelhos ao dar-nos conta de tudo o que temos que aprender para animar-nos a deixar passar o que não serve e para ser capazes de renunciar ao que nos pesa levar nas costas: porém existe algumas noticias. Pelo visto, temos muito de quem aprender.



20 passos hacia adelante
Autor: Jorge Bucay

Comentários

  1. Passei para dizer que estou gostando do blog.

    Bjos.

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  2. Espero poder responder às expectativas, tenho muita informaçao que compartir, mas informática nao é meu forte.
    Beijos

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