Porque mais é menos.




“Viviríamos melhor se baixássemos as expectativas sobre o resultado de nossas decisões.”

                                                                                            (Barry Schwartz)



Porque mais é menos.Nos ensinaram que uma sociedade que não pode escolher não é livre e que portanto não é feliz, porém como em tudo existe um limite.
Não por ter mais donde eleger teremos mais liberdade, nem estaremos mais satisfeitos. Por outro lado hoje em dia vivemos submergidos em um sem-fim de opções e muitas vezes a vida cotidiana se converte em um catálogo depois do outro. O psicólogo Barry Schwartz crê firmemente que essa situação leva a uma insatisfação continua, a um estado de stress e ansiedade que deteriora nossa qualidade de vida. Eduard Punset discute hoje em REDES sobre um paradoxo do nosso tempo, nos “afogamos no oceano de possibilidades que temos ao nosso alcance”.


Comentário ( Eduard)

Faz poucos anos estávamos simplificando a vida. Simplificando no sentido que tínhamos a tendência a reduzir o numero de objetivos , o numero possível de alternativas. Cada um tentava concentra-se em sua profissão, em seu amor e ponto final. Nos últimos anos o que estão notando os científicos é uma explosão incrível de opções, de possibilidades de eleger diferentes alternativas, e as pessoas estão paralizando-se, e se produziu um processo inverso do que aconteceu antes no qual simplesmente estamos complicando a nossa vida e parece (nos diz a ciência) sem muita necessidade.


Entrevista

Eduard Punset:
Meus amigos me dizem, que o processo de simplificar a vida em certo modo tem ido pra trás. No teu maravilhoso livro “the paradox of choice” mencionas a palavra “foraging” o que os primitivos geralmente faziam quando ainda não se havia instalado em uma sociedade agrária e estavam buscando caça. Todo o tempo buscando. E atualmente os humanos parecem ser um pouco assim:Tem tantas opções ao redor, tem todo isso todo tempo , e estão buscando. Qual é a sensação? Isso está acontecendo realmente? Ou deveríamos ser mais felizes porque vamos conseguir, como recompensa final, talvez, algo mais valioso?

Barry Schwartz:Bem, isso é o que cremos atualmente nas sociedades ocidentais democráticas desenvolvidas. Em primeiro lugar agora cremos que não existe nada mais importante que a liberdade. A liberdade é o mais importante, e o que a liberdade significa é eleger. Somos crentes disso profundamente. Também cremos que , sem eleição, não se pode ser plenamente humano. As pessoas necessitam se autores de suas próprias vidas, viver suas vidas como eles consideram adequado. De maneira que , se privas às pessoas dessa oportunidade , não só são infelizes, senão que também desgraçados, clinicamente deprimidos, deforma a personalidade... Isso já sabemos. O erro ,um erro razoável, que temos cometido, é que, já que sabemos que a liberdade é boa e sabemos que a eleição é boa, então deve ser verdade que mais eleição é todavia melhor. E o que temos feito nos últimos 20 ou 25 anos é que , simplesmente, temos feito explodir a quantidade de opções que as pessoas tem, tanto nas partes da sua vida nas quais sempre tinham tido eleição, como quando vais comprar ao supermercado, como em todo tipo de áreas da vida nas quais geralmente não havia nenhuma eleição.

Eduard Punset:
Então , se realmente aplicássemos a ciência na vida cotidiana, provavelmente agora estaríamos dizendo algo impopular, como,:” Não averigúes quantos objetivos você tem ou qual será o melhor de todos, simplesmente elege o que mais te pareça possível e fiável.


Barry Schwartz:

Esse é o tipo de conselho que deveríamos estar dando. As pessoas que querem conseguir lo melhor, seja o melhor jeans, a melhor namorado (a) para o matrimonio, a melhor casa, as melhores férias, o melhor restaurante, o melhor programa de televisão para ver... As pessoas que querem conseguir o melhor estão especialmente torturadas pela vida moderna. A vida é demasiado curta para examinar quinhentos cereais para o café da manha, assim que cedo ou tarde , acaba elegendo um, leva pra casa e acaba convencido de que elegeu o cereal equivocado, porque não pôde ver todos os outros. Agora bem, o cereal para o café da manha não é algo muito importante, porém se aplica o mesmo principio: queres o melhor, buscas, buscas, buscas , buscas e buscas e, ou bem nunca te decides, o beneficio truca a decisão, elege a alguém e logo passa o resto da tua vida convencido de que elegeste a pessoa equivocada. Então a alternativa é estar satisfeito, não buscar o melhor, sim buscar algo que seja suficientemente bom. Um cereal suficientemente bom, um lugar para estudar suficientemente bom,e ... duvido em falar isso ... uma pessoa suficientemente boa para viver o resto da tua vida com ela. E então, mesmo havendo um montão de opções aí fora, não necessitas examinar-las todas . Só examinas até que encontre uma que cumpra com teus requisitos.

Eduard Punset:

E as pessoas não vão dizer: “Barry Schwartz nos está dando, algo assim como, conselhos prosaicos?

Barry Schwartz:
Ah, isso é exatamente o que dizem! E quanto mais jovens são as pessoas mais se resistem a esta idéia.Quando lês digo isso a meus alunos, eles crêem que eu fiquei louco, que o motivo pelo qual estou dizendo isso é porque sou velho, meu cérebro se deteriorou e, para alguém como eu, isso é o único... já sabes, o melhor que posso fazer. Porém estes jovens cheios de energia, de agudeza e inteligência, eles vão fazer a melhor eleição em cada uma das áreas da vida, assim que simplesmente não me fazem caso. Os alunos estão, literalmente ficando loucos. Uma razão significativa é porque não são capazes de decidir nada. Por que não podem decidir nada? Porque temos feito que tudo esteja a seu alcance. Todas as coisas possíveis.

Eduard Punset:
Para que tenham tantas opções ...

Barry Schwartz:

Diremos que estudem qualquer coisa da qual tenham interesse na universidade, e depois descubra que queres fazer durante o resto da vida e faça. Então começam em qualquer coisa na qual estão interessados e logo chega o momento em que eles tem que decidir, “Vou ser médico, vou ser biólogo molecular, vou ser advogada, vou ser escritora...” Não suportam a idéia de que vão entrar por uma porta e que todas as demais se vão fechar de um golpe. Então ficam loucos.


Eduard Punset:

Eles crêem que não susceptivos de ser influídos pelo marketing das marcas, por exemplo?

Barry Schwartz:
Bem, nós ensinamos o que é isso, porém... por suposto, eles sorriem zombando. “Isso é o que faz as pessoas estúpidas, não é o que faz as pessoas como nós. Sou demasiado astuto, sou um consumidor demasiado inteligente”. É um tipo de arrogância e orgulho desmedido que lês custará muito dinheiro e muita infelicidade quando os especialistas em marketing lês manipulem, como ao resto de nós, quando tomem péssimas decisões e logo paguem o preço dessas decisões.


Eduard Punset:
Lembra … creio que geralmente se chamava o ponto de referencia?

Barry Schwartz:
Sim, sim. Existem muitas investigações sobre isso, porém te darei um exemplo da vida real que foi descoberto por casualidade. Faz vinte anos, aproximadamente, alguém inventou uma máquina automática para fazer pão, e se vendia por uns 270 dólares. Então vês e te perguntas , “Isso é muito dinheiro para gastar em uma maquina de fazer pão?”. Parecer bastante barata. Comparado com que? Comparado com um Mercedes? Parece bastante barata. Comparado com um tostador? Ah, é bastante dinheiro. As pessoas comprava, e então apareceu e um fabricante com uma maquina de fazer pão de luxo, que tinha opções e funções adicionais, e uma maior capacidade e se vendia por 500 dólares. E adivinha que aconteceu... As vendas da maquina barata dispararam, porque agora as pessoas sabiam que 270 dólares não era muito dinheiro para gastar em uma maquina de fazer pão, porque podiam gastar 500. Agora bem, a empresa que sacou o modelo de luxo não fez para que as pessoas comprassem a mais barata, o que fez foi pensando que as pessoas comprariam a cara. Porém o resultado foi que a cara foi o ponto de referencia para as pessoas sobre o que era caro, e então as outra lês pareceu uma bagatela. E isso acontece todo o tempo.


Eduard Punset:
Estamos dizendo antes que, quando se tem demasiadas opções , o perigo de arrepender-se do que foi elegido é muito grande. E então, qual é a natureza das pessoas nesse respeito? Quero dizer, creio que mencionaste que as divides , ou tenta dividir-las em maximizadoras e sastifatoras, é assim?


Barry Schwartz:
Sim


Eduard Punset:
E… qual é a finalidade do arrependimento?


Barry Schwartz:
O arrependimento, na verdade, envenena as boas decisões. Tomas uma boa decisão; é uma boa decisão, porém pode que não seja a melhor. Então te arrependes de ter tomado. Y o que isso faz , é que converte em uma decisão todavia pior. De maneira que é toxico. Por outro lado, é uma emoção muito importante, porque eu creio que o arrependimento é o que realmente faz que tomemos em serio os erros que comentemos, especialmente ao interatuar com outras pessoas. Entao, creio que é sumamente importante experimentar arrependimentos para motivar-nos a ser melhores. O problema é que temos essa emoção que sentimos a respeito de muitas coisas que não valem a pena. Entende? Nunca deverias lamentar por ter pedido um prato em um restaurante. Porém existem pessoas que simplesmente não podem deixar de pensar na possibilidade de ter cometido um erro.


Eduard Punset:
É verdade que cada um, falando de arrependesse, tem tendência de arrepender-se mais do que foi feito, que do que não foi feito?


Barry Schwartz:Bem, isso é complicado. Parece ser que nos arrependemos mais das coisas que fizemos do que das coisas que não fizemos. A curto prazo, tua vida na ultima semana. É mais provável que te arrependas de atos que não foram bem, mais que de não ter atuado. Contudo, se te peço reflexionar sobre os últimos vinte anos da tua vida, bem, então as coisas das quais as pessoas se arrependem são as coisas que não fizeram. Quando perguntas às pessoas asianas quais são as coisas das quais mais se arrependem, é de não ter tido uma melhor formação, de não ter viajado mais. Então, a curto prazo, a picada amarga são os erros cometidos; a longo prazo, o comprimido amargo são os erros de não ter atuado.


Eduard Punset:Mencionaste a formação, e é verdade que quando leio teus artículos e livros, é fantástico o que dizes sobre a educação. Você diz: “Estamos ensinando... estamos ensinando as pessoas, estudantes, pode que a ser bons técnicos e tecnólogos, porém não estamos ensinando a ser bons cidadoes”. Esta é a grande revolução, que deveria estar chegando nos próximos anos...


Barry Schwartz:

Bem, é um tipo de revolução divertida, porque equivale a voltar a uma época anterior, entende? Não é tanto marcar uma nova direção, sim recordar às pessoas o que tinha valor no passado. Creio , uma vez mais, que nas sociedades desenvolvidas, existe realmente uma espécie de nervosismo e uma atitude defensiva respeito a reconhecer que algumas maneiras de viver são melhores que outras, que alguns valores são melhores que outros, que se pode fazer coisas corretas e incorretas. Porque cremos que este é o tipo de decisões que as pessoas deveriam tomar por si mesmas. Disso se trata uma sociedade liberal. “Quem eres tu para dizer-me o que tenho que fazer com minha vida?”. E, então , o que tem acontecido é que, nas universidades, este tipo de dimensão moral da educação, essencialmente, foi atrofiado, desapareceu, por uma falta de valentia por parte dos educadores. E antigamente a pessoas não só não duvidava em dizer a seus alunos como viver suas vidas, como também creiam que se tratava disso. A finalidade da educação é criar cidadãos, era criar pessoas que tivessem tendência a fazer o correto. Porém ia não iam fazer o correto tirando da força das suas mentes. Tinham que dizer-lhes o que era o correto.


Eduard Punset:
Falemos das emoções , emoções básicas: orgulho, ódio, ira eh... felicidade, já sabes...emoções para as quais tampouco existe nenhum ensinamento, sobre como manejar-las ... Uma coisa que mencionavas antes é que o fato de ser capaz de controlar tua própria vida, de controlar teu comportamento, de não depender demasiado do que fazem os demais, é uma fonte de felicidade. Pelo contrário, é fonte de infelicidade, de infelicidade pura. E nas tuas publicações mencionas o que chamamos impotência aprendida, quero dizer, quando realmente não tem o controle. Que sucede então? Como reage a pessoa quando não pode controlar a sua própria vida?


Barry Schwartz:Se expões a … originalmente foi feito com animais, porém é correto nas pessoas...


Eduard Punset:Com ratos…


Barry Schwartz:
… sim as expões a situações nas quais não podem controlar significativamente o que lês sucede, então elas se tornam impotentes, se dão por vencidas, e logo posteriormente , inclusive quando podem controlar, não tentam. Isto pode levar à depressão clinica. Então, se argumenta que um componente da depressão clinica- o “não posso sair da cama”, “não posso decidir que vestir”, a depressão, a tristeza –é esse sentimento de impotência de falta de controle. E esse é um dos motivos pelos quais as pessoas pensam que ter uma eleição é importante, porque se as pessoas tem eleição, então tem o controle. Sabemos que as pessoas necessitam ter o controle e, Por que? Minha própria suspeita é que nascemos assim. Existe algumas evidencias de que , começando com os bebes de dois ou três meses , ser capazes de exercer o controle, e neste caso, controle sobre seus cuidadores é uma fonte de alegria. E se tem visto em uma brincadeira com bebês, na qual quando movem seus corpos de certa maneira, se liga uma luz e eles sorriem e riem e olham a luz. No outro grupo de bebês se liga a luz, porém eles não controlam, simplesmente se liga. Estes perdem o interesse num instante. Daí deduzimos que o que eles gostam ( os bebes) controladores não é ver a luz, sim a evidencia de que “Eu fiz que o mundo mudasse”, “ Algo que fiz mudou o mundo”. Isso é o que lês excita. E se isso se vê em bebês de três meses, então é muito provável que seja básico... é uma parte básica de nosso equipamento, que nos importa controlar o entorno em que vivemos.

"Quando as decisões são reversíveis acabamos menos satisfeitos com elas "

Barry Schwartz


Fonte: REDES acesso 31/07/2010

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