Nosso cérebro altruísta

“A atenção aos necessitados não é um comportamento exclusivo de nossa espécie”
(Frans de waal)

"Sempre acreditamos que a empatia , a capacidade de colocar-se no lugar do outro e o altruísmo surgiram do desenvolvimento da sociedade humana, das civilizações organizadas e legisladas.
Os cimentos dessas virtudes existem em muitos outros animais. Estar conectado com os demais entender-los sentir sua dor não é exclusivo dos seres humanos.
O primatólogo Frans de waal grande estudioso das emoções animais nos fala hoje da empatia e simpatia, capacidades claves para o êxito na vida social.
Quando alguém se comporta mal , ou de forma bruta dizemos que é um animal ou uma “besta “, temos a idéia de que os animais são irracionais e agressivos e carentes de qualquer emoção. Será tão feroz um leão como lhe pintamos? Os gurus das terapias naturais falam de buscar nossa criança interior em situações de crise. Porém que passa com nosso primata interior?
Dentro de cada um de nós se escondem diferentes animais. Realmente são os instintos que nos levam a comportar-nos de maneira violenta? Na verdade nossos primos primatas não são nem de longe tão horríveis , nem tão cruéis como se publicitaram tradicionalmente. A idéia de que a bondade é uma característica exclusiva da humanidade é absurda!
Os científicos descobriram que os bons sentimentos são muito mais antigos que os seres humanos. A empatia começou a formar-se faz mais de 100 milhões de anos, muito antes que os homosapiens colocassem seus pés na face da Terra. Por tanto a separação clássica entre animais e humanos baseada na crença religiosa de que eles não tem alma não tem sentido nenhum. E são o cristianismo, o judaísmo e o islam os responsáveis dessa idéia errônea. A fim de acabo as sementes dessas religiões ocidentais se geraram em um entorno desértico e nômade, donde havia poucos animais parecidos a nós. Nossos antepassados imaginaram que a única forma de inteligência possível era a dos humanos. Por outro lado as religiões asiáticas tem uma visão muito diferente do mundo natural. Segundo eles se pode reencarnar em uma barata ou numa vaca sagrada e inclusive alguns dos sue deuses tem uma aparência animal. Pode que devêssemos aprender da sua visão integral do mundo. A ciência tem lhes dado a razão, resulta que somos o ultimo link de uma cadeia que nos une a todos. É que somos animais como o que mais é, no bom sentido da palavra.
"
Eduard Punset:

Eu estudei , durante muitos anos , a empatía no ser humano. Porém , entende? Nunca pude encontrar algo como o teu livro “La edad de la empatía. E o mesmo em relação com os animais, com o resto de animais na realidade. E é fabuloso, quero dizer, provavelmente você é o primeiro primatólogo e biólogo que se ocupou da empatia no resto de animais e , por primeira vez estamos descobrindo como são capazes de expressar a empatia, de colocar-se no lugar de outros. É fantástico, Frans. Como você começou?

Frans de waal:Bem, creio que o motivo pelo qual tão poucos científicos escrevem o falam acerca deste assunto é porque eles tem medo das emoções nos animais. Ao publico em geral ,se lhes dizem: “os animais tem sentimentos”, não tem nenhum problema, eles tem cachorro ou gato. O motivo pelo qual temos boas relações com os cachorros e os gatos é porque são mamíferos e possuem empatia. Sentem nossas emoções , e nós sentimos as deles. Por essa mesma razão geralmente não temos tartarugas ou iguanas porque não temos essa conexão com elas. Assim , o publico em geral aceita que os animais , alguns animais , possuem sentimentos.Porém na ciência existe muita resistência em aceitar-lo , porque querem se objetivos e querem medir as coisas de uma maneira estrita, e as emoções são um assunto árduo.

Eduard Punset:
É incrível, porque nos resulta difícil apreciar que a diferença entre animais e humanos e o resto dos animais não é tão terrível com as pessoas crêem . E as emoções são algo que... não é assim...?

Frans de Waal:
Bom, agora os neurocientíficos sabem em que parte do cérebro , do cérebro humano se geram e processam as emoções, e um chipanzé , um cachorro e uma rata tem as mesmas partes no cérebro ,assim que provavelmente tenham as mesmas funções. Portanto, parar um neurocientífico, aceitar os sentimentos nos animais na realidade não é difícil. Investigam muito sobre o medo, o afeto , o amor , a agressão...

Eduard Punset:
A empatia?

Frans de Waal:A empatia chegará. Com os humanos está chegando e com os animais chegará.

Eduard Punset:Qual é a verdadeira diferença ,desde o ponto de vista neurológico, entre o cérebro de um chimpanzé e o cérebro de um ser humano? O humano é maior, de acordo...

Frans de Waal:
No cérebro humano não existe partes que não se encontrem no cérebro de um chimpanzé.

Eduard Punset:Incrível, não?

Frans de Waal:
De modo que os cérebros são , essencialmente, iguais, o desenho é o mesmo, mas o tamanho do cérebro humano é maior.

Eduard Punset:Se desejamos buscar uma diferença, devemos ir a um processo cognitivo muito sofisticado, como a consciência, porém não a empatia.

Frans de Waal:Não, a empatia não. A empatia pode definir-se de muitas maneiras. A definição básica é: estou conectado contigo, sinto tua dor, se estás triste eu fico triste, se estás contento eu fico contente. E as formas mais complexas de empatia se produzem quando tento entender-te, tento entender qual é a tua situação. E essas formas mais complexas não se encontram em um rata ou um cachorro. Sim , se encontram em animais como os chimpanzés e os elefantes. Porém as formas simples se encontram em todos os mamíferos. Recentemente se realizaram alguns estudos interessantes nos ratos, por exemplo, acerca desta empatia.

Eduard Punset:
Estamos descobrindo acerca da empatia nos ratos?

Frans de Waal:Existe um estudo que se realizou em Canadá : provaram fazer sair as ratas de uma caixa com estimulo de dor, e viram que a ultima rata que saia da caixa era mais sensível que o primeiro que havia saído da caixa. E não entendiam porque era assim, de modo que começaram a fazer provas e o que descobriram é que si uma rata vê a outra rata que sofre dor, se torna mais sensível à dor. E faz falta que conheça ao outro rato. Quero dizer, não se produz com estranhos, somente com um rato que já se conhece. E isso de está sujeito às emoções é parte da empatia.

Eduard Punset:
Incrível! Assim que realmente , se falamos de emoções, a diferença entre nós e o resto dos animais não é tão grande. Que me contas do outro instinto emocional? O instinto de grupo? Estamos descobrindo a importância que tem no ser humano este sentimento de pertencer a um grupo, a um coletivo, Não? Agora inclusive se fala de inteligência social. Que passa com esse instinto de grupo nos animais?

Frans de Waal:
Tem relação com a sincronia. Creio que muitos animais tem sincronia: os peixes nadam juntos, os pássaros voam juntos, muitos animais se movem juntos. Ou, se andas ao lado de uma pessoa , acabas adotando o mesmo ritmo. Tudo isso é sincronização, que é básica para os animais. E geralmente está relacionada com trasladar-se e escapar-se dos predadores e esse tipo de coisas. Os seres humanos temos uma forte tendência à sincronia. Se vás a um concerto de pop, todos se movem e fazem fotos; se vás a um partido de futebol, todos se movem juntos e cantam juntos. De modo que a sincronia é uma parte importante de nossa vida; está relacionada com a empatia, porrque o motivo pelo qual empatizamos é, em parte, porque imitamos o movimento.

Eduard Punset:
Nos sincronizamos.

Frans de Waal:Nos sincronizamos. Se tu falas assim, eu sincronizarei meu movimento com o teu, se falas assim, sincronizarei meu movimento. Quero dizer, nos sincronizaremos com outras pessoas muito facilmente e a mímica é algo que gostamos.

Eduard Punset:
Bom, creio que o melhor exemplo , pode que não de sincronia porém sim de unidade, é bocejar. Eu li alguns comentários sobre o bocejo nos chimpanzés.

Frans de Waal:
Sim, com o bocejo, o que fazemos é que temos uma animação ao bocejo, uma cara animada que boceja, que depois mostramos aos chimpanzés. E os chimpanzés, a cabo de um tempo, também começaram a bocejar. E podes fazer-lo com cachorros, podes fazer-lo com macacos; e com seres humanos , por suposto; sabemos que se contagia o bocejo. E tudo está relacionado com a empatia, com a sincronização. Entende? Todos os animais bocejam, inclusive os peixes. E os repteis , e os mamíferos, os pássaros... E não conhecemos a função exata, porém, se associa o bocejo com sono, que geralmente está associado com estar cansado e dormido, se contagia o bocejo,podes sicronizar os ciclos do sono.Deste modo, se começas a bocejar e eu começo a bocejar o resto também fazem,todos começaremos a ter sono. E nos sicronizamos , o que é muito importante na vida das espécies nômades, como os primatas. Se te mudas , devemos comer ao mesmo tempo, necessitamos mover-nos ao mesmo tempo, necessitamos dormir ao mesmo tempo, porque , se não , não estaremos sincronizados. É muito importante fazer-lo , e, por conseguinte o bocejo pode ajudar. O contágio do bocejo.

Eduard Punset:Sim. É provavelmente o único que sabemos: que pode ajudar à sessões coletivas.

Frans de Waal:
Porém não acredito que isso sirva para os peixes e os répteis. Assim que ainda não temos uma explicação completa.

Eduard Punset:Uma coisa incrível é a capacidade para diferenciar entre empatia e simpatia, não só nos seres humanos, quero dizer, os seres humanos sabemos, porém os animais , também podem diferenciar? Diferenciam entre empatia e simpatia?

Frans de Waal:Nós podemos fazer a diferença , porém não estou seguro de que eles possam fazer-la. A empatia é basicamente uma capacidade neutra, a empatia significa que eu estou conectado com teus sentimentos, e te entendo até certo ponto, enquanto que a simpatia tem mais que ver com a ação. Sou sensível a tua situação, porém quero melhorar-la. Por tanto , a simpatia é quase sempre algo positivo. A empatia pode ser algo negativo. Por exemplo, se te torturo, também necessito entender teus sentimentos. Torturar e comportar-se mal com alguém também pode ter relação com a empatia,porque necessito entender a situação para ferir ao outro. Então, a empatia é uma capacidade neutra, e a simpatia é quase sempre uma capacidade positiva.

Eduard Punset:Enquanto te escutava, estava pensando que para ser mal também deves ser inteligente, quero dizer, necessitas ter um certo grau de inteligência. É o que você estava falando, certo?

Frans de Waal:Sim, sim. Exatamente... Bom, deixa-me que te conte algo. Os chimpanzés podem tomar a perspectiva do outro até certo ponto. E podem ser maus , como você fala. Tínhamos uma situação na qual os chimpanzés estavam buscando comida. Lês damos um montão de maças e eles buscavam em um espaço interior, em uma área, e tinha um pequeno buraco na parede pelo qual outros chimpanzés podiam ver o que acontecia. E podiam tentar alcançar as maças,porém não podiam pegar-las. E o que ocorreu é que uma fêmea jovem, avacalhava aos demais. Sustentava uma maça, fora do alcance dos demais chimpanzés , mostrava a maça e logo comia. E para fazer algo assim deves saber o que o demais querem. É tomar a perspectiva e também está relacionado com a empatia.

Eduard Punset:
Isso é. De modo que começamos a ser maus quando éramos inteligentes, certo?

Frans de Waal:
Sim. Quando nos comportamos mal, e torturamos,durante uma guerra por exemplo, é estranho dizer, porém está relacionado com a empatia.

Eduard Punset:
Sabia que os chimpanzés podiam passar aproximadamente um 30% do tempo fofocando, e o mesmo acontece nos seres humanos. A minha pergunta é, e pensei muitas vezes acerca disso... Brincam , tem brincadeiras , aperfeicionaram os jogos como nós, certo?

Frans de Waal:
Não, porque nossos jogos tem normas. E eles tem muitos jogos , porém não tem normas. O jogo do chimpanzé é muito físico, do tipo saltar uns encima dos outros, correr , brigar... Existem algumas regras, como,por exemplo, um chimpanzé grande deve ir com cuidado com o chimpanzé pequeno enquanto jogam, porque se não pode acabar por ferir ao chimpanzé pequeno.

Eduard Punset:
Outra coisa que me fascina é ver que inclusive os elefantes fazem. Como se preocupam quando vêem que um elefante pequeno , uma cria de elefante, tem problemas... Estão afligidos. Por que isso acontece?

Frans de Waal:
Bom, esse é o mecanismo básico da empatia. Se tu estás afligido, eu estou afligido. Y quanto mais próximo a mim sejas, mais ainda : se é meu pai ou meu filho o que seja... Temos feito investigações com elefantes, em elefantes de Tailândia, e se um elefante jovem se assusta por culpa de uma serpente, por exemplo, e faz muito ruído com a trompa, os adultos lhe rodeiam imediatamente e começam a fazer ruído, a tocar-lo e a lhe acalmam . É o denominado comportamento de consolo. O consolo não acontece nos macacos, porém sim nos símios, nos grandes símios, como gorilas e os chimpanzés, e nos seres humanos. E o consolo também acontece nos elefantes.

Eduard Punset:
E por que não acontece nos macacos?

Frans de Waal:
Creio que os macacos não tomam a perspectiva dos demais, vivem em si mesmos, são sensíveis à emoção dos demais, porém não tem a compreensão que mostram os símios diante da situação dos demais. Por exemplo, se um chimpanzé jovem se rompe um braço, a mãe se adaptará, irá com cuidado com o pequeno, lhe carregará mais , e andará mais devagar... Quero dizer adaptará seu comportamento à situação. Se um macaco rompe um braço, a mãe não modifica seu comportamento em nada. Este macaco jovem só deve tentar agüentar. Por tanto , os chimpanzés, os elefantes e os seres humanos são mais sensíveis à situação dos demais, pelo menos mais que os macacos.

Eduard Punset:Porém...é difícil entender, porque os chimpanzés, provavelmente vem, agora já sabemos de um predecessor comum, de acordo. Mas os elefantes são totalmente diferentes...

Frans de Waal:Creio que é porque o mecanismo básico da empatia é um mecanismo dos mamíferos. Se encontra em todos os mamíferos. E logo , se adicionamos a inteligência, e o elefante tem um cérebro de 5 kg (é um cérebro grande), se lhe adiciona a inteligência, pode ser mais complexo, como tomar perspectiva, etc. Por isso possuem os golfinhos, e os elefantes, e os símios , mesmo que sejam grupos diferentes; adicionaram a inteligência para fazer que a empatia seja mais complicada.

Eduard Punset:
Frans , você é um dos principais primatólogos do mundo e você passou toda a vida trabalhando com eles . Depois de tantos anos de trabalhar com eles, ainda acredita que exista uma espécie de descontinuidade, uma grande diferença entre os seres humanos e o resto dos animais?

Frans de Waal:Provavelmente a única diferença que posso mencionar é a linguagem, Creio que , social e emocionalmente , um chimpanzé e um ser humano são muito parecidos. Porém nós agregamos a linguagem a tudo isso. E a linguagem não uma capacidade pequena,sim uma grande capacidade que afeta a todos os demais,porque uma vez que se tem linguagem , começa a organizar a sociedade de outra maneira, começa o ensinar de outra maneira, tua tecnologia se faz mais complexa, e recebes toda esta acumulação de conhecimentos da sociedade... Portanto, creio que a linguagem é uma grande diferença.

Eduard Punset:Por que alguns científicos afirmam que outros animais também tem uma espécie de linguagem?

Frans de Waal:Bom, eles tem a comunicação, e a comunicação é bastante complexa, porém não simbólica. Quero dizer, é outro tipo de comunicação... Nós também temos a comunicação não verbal do chimpanzé, também temos isso, e é muito importante para nós , porém temos adicionado a linguagem.

Eduard Punset:
Assim que para manter-nos calmos, tranqüilos, e felizes com nós mesmos, devemos aceitar que os conceitos abstratos são um privilegio de nossa espécie...

Frans de Waal:
Mesmo assim , na nossa vida cotidiana, a linguagem não é tão importante como crês , porque a maior parte do tempo se trata da linguagem corporal,e a linguagem corporal que temos é a mesma que tem os macacos. Entende? Não é muito diferente.

Fonte: transcrisción





Ainda não está terminado.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ECOLALIA E AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM EM CRIANÇAS AUTISTAS(p.2)

Segurar o lápis

ECOLALIA E AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM EM CRIANÇAS AUTISTAS (p. 3)