Superar a depressão







Este artigo foi extraído da revista Mente Sana, foi publicado na comunidade SMSB.

Superar a depressão

A depressão é uma das infecções mais freqüentes nas sociedades modernas. Não obstante, sua origem é tão antiga como o ser humano. O medico grego Hipocrates, no século IV antes de Cristo, descreveu os sintomas da melancolia, causado pelo que ele denominava a “bílis negra”. Algo mais tarde, o médico romano Celso recomendava alegrar e tranqüilizar o melancólico, já que tinha perdido a estimação por si mesmo. A lista das descrições que se fizeram ao longo da história da enfermidade da tristeza é muito longa: uma “pena do espírito fixada no pensamento sem febre” a “enfermidade dos monges” _uma espécie de aborrecimento ou tedium vitae _, que faz perder o gosto pela vida o regime monástico... Todas elas coincidem em uma coisa, em descrever a depressão como a enfermidade da melancolia ou da tristeza.
A depressão é um túnel donde a paisagem interior se torna sombria, fazendo fronteira e, nos casos mais graves, tétrico. A tristeza a é galopante e tudo se vê negro , o passado e o futuro. A pergunta é, por que entramos nesse túnel sem fim? Por que decae vertiginosamente nosso estado de animo?

A origem da depressão

A depressão é um estado psicológico anormal que pode estar produzido tanto por fatores internos (transtornos depressivos endógenos) como externos (transtornos depressivos exógenos). Os transtornos depressivos endógenos têm sua origem em um desordem bioquímica cerebral bastante complexa no qual estão implicadas uma serie de substancias que transmitem impulso entre neurônios. São de natureza neurobioquimica, hereditários e necessitam medicação. Nas formas depressivas exógenas, são os acontecimentos, os problemas e as dificuldades da vida suas principais causas.
Entre ambos estados cabe um espectro intermédio de possibilidades que vão desde as depressões menores a as depressões breves recorrentes (que reapareçam ao longo do tempo), passando pro aqueles episódios que se dão na síndrome da tensão pré-menstrual, tão freqüente nas mulheres.
Seja qual seja a origem, os sintomas da depressão são muito variados, se trata de uma sinfonia desprazentera que afunda a pessoa em todos os sentidos, deixando-a a mercê das ondas donde o estado de animo vai e vem. Porem com um agravante: a tristeza Le deixa sem forças para as tarefas normais da vida cotidiana.

Não ter ânimo

Como toda enfermidade a depressão se compõe de uma constelação de manifestações clinicas, um conjunto de sintomas que podem agrupar-se em cinco planos diferentes que interatuam entre si: o plano somático, o psicológico, o da conduta e o plano cognitivo (referindo ao processamento da informação no cérebro) e o assertivo (centrado nas habilidades sociais).
No plano físico, a sintomatologia tem três grandes expressões: dor de cabeça, insônia e diferentes transtornos do ritmo sono- vigia, e moléstias somáticas difusas repartidas por toda a geografia corporal (opressão precordial, belisco gástrico,sensação de cansaço e esgotamento).
No plano psicológico se centra na vertente vivencial, o estado de ânimo do paciente. Deve-se matizar que entre a tristeza ocasional e a que é própria da depressão existe diferença qualitativa e quantitativa. A tristeza da pessoa sana é compreensiva, moderada, se ajusta a realidade dos fatos, é relativamente suportável _depende do motivo desencadeante _ e seu melhor remédio é o tempo, que cura quase todas as feridas. A tristeza patológica é desmesurada, geralmente não se apóia em dados concretos da realidade e pode fazer-se insuportável, por isso quando se prolonga em excesso, pode dar lugar a tendências suicidas.
Os sintomas que se reflexa na conduta são o bloqueio geral do comportamento e a inexpressividade da linguagem verbal ( numero de palavras por minuto) e da linguagem não verbal, podendo chegar ao mutismo. Si ademais se somam transtornos como a ansiedade, aparecem a inquietude, o desassossego, a antecipação do pior e certo estado de alerta.
Os sintomas cognitivos se referem aos esquemas mentais que o sujeito tem ido fabricando e que se manifestam como se armazenam os acontecimentos vividos. Trata-se de meter num depósito donde se acumulam e concentram as vivencias de cada um. Se utilizamos o símil de um computador , na pessoa depressiva, o processamento da informação se caracteriza pelos erros e deformações. Tudo se desfigura e distorciona, e o conceito que se tem de si próprio está repleto de falsas interpretações. Todo é negro: presente, passado e futuro. As saídas se fecham e o túnel se faz longo e estreito. A óptica subjetiva, presidida pelo pessimismo, paralisa qualquer motivação, se maximiza o negativo e se minimiza o positivo. A sorte está lançada: a visão pessoal ancorada no negativo é incapaz de olhar de outro modo.
Por ultimo, os sintomas assertivos o do plano social é clara a tendência ao isolamento e a recusa ao contato com os demais: O enfermo depressivo não está para ninguém.

Novas formas de depressão

Existem duas modalidades recentes ou relativamente novas no campo da depressão e que tem que ver com o estilo de vida: a síndrome de burnout a de “estar queimado” e o modo de vida depressivo.
A síndrome de burnout se poderia definir como a síndrome do esgotamento emocional: uma situação de deterioro pessoal, familiar, e/ou Professional, ao que se soma a sensação de não suportar as circunstancias envolventes. Estas pessoas geralmente se “desumanizam”, quero dizer, mostram insensibilidade ao mau trato, e certo grau de cinismo com as demais pessoas. As respostas negativas e o baixo nível de autoestima se somam aos sintomas físicos relacionados com o stress. A síndrome de burnout é comum nos matrimônios em crises permanente; em pessoas cujo trabalho prima a relação interpessoal_ é muito freqüente entre pessoal sanitário e docente; ou quando a ocupação laboral é automática e as relações pessoais , mínimas.
A vida depressiva, da sua parte, é aquela existência vazia, na que não se dão os principais argumentos que enriquecem a existência: o amor, o trabalho, as amizades a cultura em suas mais variadas expressões ... É monótona, carente variedade e carregada de melancolia. Trata-se de uma vida donde não existem planos nem objetivos, sem motivação ( a força que ativa a conduta). Muitas de essas pessoas esperam encontrar a magia que lês cure em um comprimido; o psiquiatra, no entanto , sabe que o paciente deve mudar esse modo de vida se quer seguir adiante.

Viver com alegria

Como se pode recuperar a motivação, a vontade de viver, a alegria? Como podemos superar a depressão? A tetralogia do tratamento descansa na psicoterapia (mudar pautas de conduta e a forma de ser), a socioterapia (potenciar o plano social do paciente), a laborterapia ( realizar tarefas motivadoras ) e a bioterapia (antidepressivos e técnicas eletro convulsivas).
A psicoterapia trata de ajudar ao paciente nos seus começos a compreender-se melhor, a assumir sua biografia e a amadurecer nas distintas vertentes de sua personalidade. Existem três passos sucessivos que vão nessa direção. O primeiro, conhecer-se melhor, tarefa na que o psiquiatra ou psicólogo tem uma influencia enorme, o que vai conduzindo a compreender-se melhor a si próprio, captando estilos e formas de reagir. O segundo passo é aceitar a historia pessoal, viver instalado no presente, superar os acontecimentos tristes do passado, com tudo o que isso significa, e viver encarado rumo ao futuro. Por ultimo, ir avançando no amadurecimento afetivo e da personalidade, com uma forma de ser próprio, livre, responsável e coerente.
Por outro lado, e paralelamente aos avances conseguidos nos últimos anos no campo da fisiologia cerebral, também tem aumentado as possibilidades de tratar a depressão endógena. As diferentes classes de antidepressivos que oferece a indústria farmacêutica, se podem adicionar dois novos avances no tratamento da depressão por causas internas. Um é um estimulador magnético transcraneal, uma pá metálica que se aplica no pólo frontal e cujas descargas produzem uma ativação dos neurônios cerebrais. Este tratamento e mostrou efetivo em curto prazo em pacientes que não respondem aos antidepressivos. Outro método é a aplicação de eletrodos para estimular o nervo vago (nervo central relacionado com a ansiedade ou a depressão).
Seja como seja, existem tantos tratamentos como pacientes e é o labor do psiquiatra ou psicólogo lês ajudar a recuperar esse projeto de vida, que os encaminhem rumo a um futuro positivo. Não temos que esquecer que vivemos em uma sociedade que tem pressa, porém muitas vezes não sabe donde vai. Buscar os valores que não passam de moda, lutar por viver-los é a clave.

Decálogo contra a tristeza

A autêntica felicidade não é um estado perfeito e permanente, senão um balance existencial positivo. Os altos e baixos, frustrações, dificuldades, sem sabores, os erros inevitáveis e, na melhor das vidas, tudo isso aparece em distintas doses. Em nossa mao esta saber encaminhar esses fracassos e ver-los como experiências das quais se podem extrair lições.
Baixo esta premissa, e depois de muitos anos de trabalho clinico e de investigação , me atrevo a oferecer um decálogo contra a tristeza, uma espécie de guia, um manual de instruções para evitar esse labirinto tenebroso de pensamentos negativos que conduzem a um túnel de difícil saída.
1_ A felicidade como projeto.


A felicidade é o objetivo da existência humana. A vivência da felicidade é sempre perfectível. Trata-se de um processo que exige ordem, Constancia, vontade e motivação. Esses quatro ingredientes são para mim os que habitam na chamada inteligência instrumental. Minimizam-se os fracassos e se valora qualquer realização, por pequeno que seja. A felicidade absoluta não existe, temos que aspirar a uma felicidade razoável.


2_Dar humor à vida


O sentido do humor é patrimônio das pessoas com boa saúde mental. É uma componente clave da atitude positiva, é o molho que tempera dia a dia as adversidades e reversos do destino.


3_ Conhecer a si próprio


Conhecer-se implica ser conscientes de nossas habilidades e limitações . Ambas qualidades proporcionam um melhor equilíbrio psicológico. Ser maduro nesse sentido é um grande antídoto contra a depressão.


4_ Cuidar tua linguagem interior


Graças à psicologia cognitiva sabemos que cada um de nos mantemos uma espécie de monologo interior privado que acompanha aos pensamentos e as ações. É necessário aprender a mandar-se a si próprias mensagens positivas. Por exemplo, diante de situações reversas e momentos duros, podemos dizer-nos; “Animo! Você pode superar isso...”

5_ Fortalecer a vontade


A vontade é a capacidade para fazer algo importante que para começar resulta difícil. É a capacidade de adiar a recompensa. Quando existe uma vontade forte, aparece a lucidez do perdedor, que consiste em começar de novo e colocar sobre a mesa os propósitos a alcançar.


6_ Superar as crises da vida


Para superar qualquer crise que chame a nossa porta necessitamos compreender-nos, ter capacidade para retificar, perdoar-nos e saber que o tempo cura quase todas as feridas.


7_ A concepção do tempo


É importante que em nossa vida, passado, presente e futuro formem uma equação, sana, equilibrada e harmônica. Uma pessoa madura é aquela que vive instalada no presente, tem assumido e superado o passado e tudo o que isso significa, e vive aberta ao futuro.

8_ Apoiar-se no entorno


Todos necessitamos a ajuda e a compreensão dos demais, especialmente da família e dos amigos. A família deve ser o recito privado donde se aprende a amar e donde melhor compreendido se deve sentir. Temos que trabalhar para que seja assim. Cada um é como um bumerangue: o que se semeia em nos, isso é o que recolhemos. Esse também é o valor da amizade: confidência, doação, e complementar.


9_ Aprender a pedir ajuda


Na vida é essencial saber pedir ajuda quando se necessita e, no emocional, o psiquiatra e o psicólogo geralmente são as pessoas mais preparadas para orientar-nos. Temos que ter presente que para a depressão endógena a medicação é essencial; nas depressões reativas, a psicoterapia é a que leva a voz cantante. E sempre se tem que seguir umas pautas desenhadas pelo psiquiatra: tomar a medicação prescrita, cumprir as diretrizes, fazer os exames propostos, não deixar a medicação por vontade própria, nem automedicar-se.


10_ Buscar sentido para tua vida


Deixei par o final o ponto mais importante de todos. O sentido da vida. É necessário descobrir que é a vida, em que consiste, para que vivemos. E sentido quer dizer três cosas: direção, conteúdo e estrutura. A direção é vislumbrar o rumo que seguimos, de donde saímos, o qual nos permitirá tanto sacar o Maximo partido a cada jornada como descobrir uma visão a longo prazo no que fazemos. Cuidar da qualidade do amor, do trabalho, da cultura e das amizades... Os pratos fortes do banquete da vida. E a estrutura nos pede que existam dentro de nos o menor número e contradições, que busquemos a coerência da vida, enfim, que entre a teoria e a pratica exista uma relação o mais equilibrada possível.


Dr. Enrique Rojas
Catedrático de Psiquiatria e Psicologia Médica
e presidente da "Alianza para la Depresión".
Autor de "Adios, depresión" editora " temas de hoy"

Comentários

  1. Existe alogo que ele nao comenta e que para mim foi fundamental para melhorar o meu estado de ânimo, falo da prática regular de uma atividade física.

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