É internet boa para nosso cérebro?

As novas tecnologias de informação estão transformando-nos porém ... seguro que para bem? Alguns estudos adverte dos seus efeitos sobre nossa capacidade de atenção, de reflexão e de compreensão.


              Por: GUILHERMO CABA ( publicado na revista Redes nº 6)

Menos capacidade de atenção e concentração, perda de profundidade de pensamento, de capacidade de reflexão e, por tanto de compreensão... Estas são algumas das alarmantes conclusões as quais estão chegando diversos estudos levados a cabo em todo mundo e que tem por objetivo avaliar que tipo de impacto produz o uso das tecnologias online em nossas capacidades cognitivas. Tal como remarca Nicholas Carr, jornalista e autor da obra The Shallows: What the Internet is Doing to Our Brains(W. W. Norton, 2010) estes trabalhos contradizem os pressupostos que se formularam na década dos oitenta, quando se pensou que o uso de textos salpicados de links – enlaces ou vínculos que permite enlaçar com outros documentos- seriam uma ferramenta que fortaleceria o pensamento critico. O Argumento era que poderíamos mover-nos facilmente em entornos informativos, que nos serviriam distintos pontos de vista sobre os mais diversos assuntos. Através desses textos salpicados de links, o que hoje denominamos hipertextos, os usuários do futuro poderiam fazer todo tipo de novas conexões entre diferentes fontes de informação , o que suscitaria um pensamento mais criativo.

O lado escuro dos hipertextos
Porém este escritor norte-americano graduado em Harvard (EE.UU.) que atualmente é membro do conselho editorial da Enciclopédia Britânica e que naquele momento teve a coragem de plantear a pergunta de se Google não estava fazendo-nos mais estúpidos, mostra que a realidade se está revelando bem diferente. Em primeiro lugar porque a própria dinâmica subjacente ao mover-nos através dos textos interativos gera que percamos a concentração. O resultado disso é que a compreensão do que estávamos tentando aprender se torna muito superficial. Daí que a final , em muitos casos, os internautas não cheguemos a distinguir entre o que realmente temos lido ou não lido. Os estudos comparativos entre o modelo de aprendizagem tradicional de leitura lineal, ou bem a leitura através do hipertexto, são claros: No ano 2001 se pediu a 70 pessoas que lessem uma curta história. Um grupo em documento de forma de texto lineal. O outro grupo através de forma interativa. As pessoas pertencentes a este segundo grupo demoraram mais tempo em ler o documento, ao tempo que a compreensão do mesmo foi maior entre as pessoas que tinham lido através de um texto lineal. Nesse sentido, os trabalhos da investigadora Erping Zhu, diretora assistente do Centro de Investigação na Aprendizagem e Ensino da Universidade de Michigan (EE.UU.) apontou de forma inequívoca que existe uma relação entre o numero de links, que existe em um documento e a compreensão que acabamos tendo do mesmo. Dito claramente: os trabalhos de investigação mostram  que as pessoas que lêem textos em forma lineal entendem mais, recordam mais e aprendem mais que os que fazem através de textos online que estão salpicados de links.

Mais informação...
Que é o que se cozinha no nosso cérebro que possa explicar o que nos está passando? Segundo Carr , para que os dados e experiências com os que tratamos em nossa vida cotidiana se possam assentar em nossa consciência de forma harmônica e estejam disponíveis através de nossa memória, é imprescindível que a atenção não se fragmente em mil pedaços, que é o que acontece quando nos expusemos em excesso a um excesso de determinados estímulos externos que sacodem nossa atenção da aqui para lá. Se a leitura atenta seqüencial de um livro significa que , gota a gota, vamos enchendo um dedal cujo o conteúdo vamos derramando de forma paulatina em um recipiente _ que a sua vez contem os dados que nos permitem desenvolver a capacidade de memória a longo prazo, a exposição aos conteúdos com hipertextos comporta que tenhamos que ver uma quantidade superior de água que supera a quantidade de carga do próprio dedal. De esta maneira, ao mover-nos online o que em realidade estamos fazendo é sobrecarregar nossa capacidade de processar e armazenar a informação. Quero dizer, é um ato bastante fútil porque, a final, não poderemos utilizar ditos inputs de informação para estabelecer conexões com outros conteúdos da mente.
Que acontece quando nos vemos imersos pelo cumulo de informações , que sobrecarregam nossa capacidade de processar-los ? Um dos efeitos é que nos deixamos arrastar por estímulos em razão do que estes são, simplesmente, inputs que vão aparecendo de forma imediata. Ansiamos o novo apesar de saber que é trivial porque a mente que já não sabe estar atenta ânsia as interrupções. Nesse sentido, a incorporação das novas tecnologias de informação com suas correspondentes aplicações _ correio eletrônico, blogs, chats, telefone celular_ em todos os âmbitos de nossa vida cotidiana, permitem que façamos das interferências o padrão de nossa forma de trabalhar e de desfrutar_ ou de padecer, depende de como se olhe_ de nosso tempo livre. A margem do impacto que esta cascata de interferências tem a nível cognitivo, isso conduziu a alguns investigadores , como o professor emérito de neurociência na Universidade de Califórnia em San Francisco (EE.UU.) Michael Merzenick , a reconhecer abertamente que quando trabalhamos e vivemos online “ treinamos nosso cérebros para que estejam atentos às estupidezes"

...Em troca de menos conhecimento
Outros investigadores , como o psiquiatra da Universidade de California em Los Angeles (EE.UU.) , Gary Small, autor de Brain: Surviving the Technological Alteration of the Modern Mind ( William Morrow,2008) apontam de forma inequívoca que a exposição às tecnologias digitais , através do computador ou do telefone celular, estão afetando à fisiologia de nossos cérebros. Isso se traduz que os circuitos neuronais implicados no contato cara a cara se vaiam debilitando,o que leva uma falta de cooperação social, inabilidade para interpretar mensagens não verbais, isolamento e perda de interesse na aprendizagem escolar. Nesse sentido, Jaume Almenara , professor de psicologia da Universidade de Barcelona e ex decano do Col .legi de Psicòlegs de Catalunha, constata de forma confiável o impacto da cultura audiovisual na perda da capacidade de atenção entre seus próprios estudantes. “ Chama a atenção que quando uma classe, em momento determinado, a uma pessoa lhe passa pela cabeça dizer uma coisa por outra, se diz a ela. Não pode esperar. E isso tem causado muitos problemas aos professores quando se interpreta como falta de respeito”, explica Almenara, e esclarece que “ não é que seja por falta de respeito. Quando isso acontece, a meus alunos lhes digo em brincadeira: “cuidado com a falta de atenção e hiperatividade”. Logo se riem um pouco e se concentram. De acordo com este psicólogo a pressa pelo imediato, que a cultura audiovisual tem introduzido em nossas vidas, acarreta uma perda de capacidade de auto-análises, quero dizer , a que a final não sabemos reflexionar sobre o mais importante :nós mesmos. Apesar de que nunca terem impugnado este tipo de trabalhos, o certo é que a cultura digital audiovisual inunda a cotidianidade das pessoas, de maneira que também as inundam com as conseqüências cognitivas que levam consigo. “ Vejo que o uso de tecnologias online supõe uma erosão da profundidade intelectual de nossas vidas assim como de nossa cultura”, diz Nick Carr para Redes, e reconhece que, por agora, nem políticos , nem os acadêmicos ou os grandes empresários do mundo das TIC estão tomando a serio as conclusões as quais estão chegando estas investigações.


Para saber mais:
The Shallows: What the Internet is Doing to Our Brains (W. W. Norton, 2010)
Brain: Surviving the Technological Alteration of the Modern Mind ( William Morrow,2008)

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