ECOLALIA E AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM EM CRIANÇAS AUTISTAS(p.1)

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ECOLALIA E AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM EM CRIANÇAS AUTISTAS


IMPLICAÇÕES DE CARA À INTERVENÇÃO

Pedro Gotazar Diaz. Centro Taure.

VI Congresso Nacional de AETAPI. Palma de Mallorca . Novembro , 1990

INDICE DE CONTEUDOS



Introdução

Hipóteses multifatorial de Schuler y Prinzant (1985) sobre a origem da ecolaliaz

Modelo de aquisição da linguagem em crianças autistas (Prizant, 1983)

Implicações para o tratamento

Conclusões



Introdução.

"Um dia que Narciso saiu para caçar veados, a ninfa Eco ( que estava apaixonada por Narciso) lhe seguiu escondida através do bosque , em campo aberto, com o desejo de falar com ele, porém incapaz de ser a primeira em falar. Narciso, vendo que tinha se separado de seus companheiros , gritou:

_"Tem alguém aí?"

_"Aqui!!" - respondeu Eco. Narciso olhou ao redor porém não via quem tinha respondido.

_"Vem" - disse.

_"Vem"- respondeu Eco. Como ninguém vinha, Narciso gritou de novo.

_”“ Por que me iludes?”

_" Por que me iludes?"- repetiu Eco.

_ "Unamo-nos aqui!" - disse Narciso.

_ "Unamo-nos aqui!" - respondeu Eco emocionada e correu alegremente do lugar donde estava oculta a abraçar a Narciso.

Porém ele sacudiu rudemente a cabeça e se apartou dizendo

_”“ Antes a morte a que puderas possuir-me!”

_" Possuir-me!" suplicou Eco, porém tudo foi em vão pois Narciso já tinha ido embora e ela passou o resto da sua vida em desfiladeiros solitários, consumindo-se de amor e mortificação, até que , de acordo com o mito , seus ossos se converteram em rocha e só ficou sua voz."



Texto extraído da Metamorfoses de Ovídio, R. Graves 1985, pp 101-102



O trágico fracasso amoroso e comunicativo da ninfa Eco foi, de acordo com o mito, o resultado da sua fala excessiva e do seu passatempo por sempre ter a ultima palavra. Devido a estas transgressões às regras do discurso foi castigada pelo Deus Juno com a seguinte condena: " Permanecerás com a ultima palavra, porém sem nenhum poder para dizer a primeira"

Poderíamos perguntar-nos por que Eco vendo que ao repetir o que Narciso lhe dizia estava colocando as coisas piores não optou pelo silencio ou por gestos ao comunicar-se. A resposta provável é que ela não podia parar o que estava fazendo, não tinha nenhum controle sobre a ecolalia.

Podemos definir a ecolalia como a repetição mecânica da fala de outros. Estas crianças, igual que a ninfa Eco , empregam de forma "parasita" segmentos de fala memorizados (Fay e Schuler, 1980) gravados de outras pessoas que reproduzem de forma exata.

Repetem com uma análises muito limitada do que estão memorizando e reproduzem frases com um nível morfossintático que contrasta notoriamente com o nível de competência lingüística real.

Kanner (1946) em seu clássico trabalho sobre a fala metafórica no Autismo Infantil Precoce considera a ecolalia como uma das principais características identificadoras do Autismo.

A existência da ecolalia aparece incluída nos critérios diagnósticos do autismo de Rutter(1978). Esse mesmo autor (1966) ( citado em Howlin,1982) encontrou que a ecolalia era a alteração lingüística mais freqüente em autistas verbais. Segundo o estudo de Rutter e Lockyer(1967) más de 75% das crianças autistas que falam apresentam ecolalia e outras características anormais.



Hipóteses multifatorial de Schuler e Prinzant (1985) sobre a origem da ecolalia





Schuler e Prinzant apresentaram em 1985 uma hipótese multifatorial sobre a origem da ecolalia. Em base a esta hipóteses consideram a ecolalia como o resultado de um conglomerado de fatores:



1. As crianças autistas possuem um método global , "gestaltico" de processamento da linguagem. Esse método global constitui uma variação extrema dentro do continuo normal " gestalt- analitico" de aquisição da linguagem.

2. As crianças ecolálicas possuem uma serie de desequilíbrios e descontinuidades evolutivas que determinam a existência de habilidades especiais que coexistem com outras deficitárias.

Mais em concreto as crianças autistas apresentam habilidades de imitação verbal e memórias auditivas normais ou inclusive superiores que coexistem com déficits lingüísticos severos e com profundas limitações na cognição social.

Podemos explicar, portanto a reprodução mecânica e literal, inclusive com latências de meses desde a emissão original, assim como a longitude de emissão tão contraditória, e a perfeita articulação de algo que apenas compreende em base à coexistência na criança de habilidades de memória e de imitação da fala muito desenvolvidas e níveis de desenvolvimento linguistico-comunicatico em muitos casos pré intencionais.

3. Existem alterações no desenvolvimento social e afetivo que podem explicar a freqüência de condutas ecolálicas na medida em que a ausência de atenção compartida impede a atribuição de significado do input lingüístico e a segmentação das emissões em suas partes constituintes. Em palavras de Schuler e Prinzant (1985,pp.180)



" Não é possível estabelecer inter-relações entre forma e conteúdo se não são reconhecidos os referentes das palavras individuais e se presta nenhuma ou limitada atenção às claves contextuais relevantes ( gestos do adulto, etc.)

Ademais a ausência de atenção compartida impede ao adulto proporcionar o feedback( como expansões e atenuações) que servem para romper estruturas constituídas, segmentar o fluxo lingüístico para a criança e proporcionar - le um" andamio "de suas emissões primitivas às formas adultas."



Métodos gestálticos e analíticos da aquisição da linguagem



Em relação ao primeiro fator considerado , diferentes investigadores sobre o desenvolvimento normal da linguagem ( Nelson 1973; Peters, 1980) informaram acerca da existência de " estilos gestalticos de aquisição da linguagem". Encontraram que existe crianças normais que adquirem a linguagem diretamente memorizando frases curtas ou segmentos de frases que ouviram de outras pessoas ; frases que empregam com um alto nível de adequação ao contexto podendo dar a falsa impressão de que possuem uma competência lingüística muito mais complexa que a real.

São crianças que começam a falar diretamente empregando frases , emissões de várias palavras memorizadas , em lugar de partir das palavras isoladas como unidades básicas da linguagem.

Empregam emissões analisadas e memorizadas como globalidades , no lugar de ir construindo emissões mais complexas a partir de unidades simples mediante a introdução de regras e a analises das relações semânticas.

Depois de um tempo as crianças do método gestaltico mudam seu estilo de processamento para um método mais analítico, ou seja, depois de um tempo finalmente segmentam em palavras as frases aprendidas , para assim poder analisar quais são as estruturas lingüísticas subjacentes e poder extrair regras que lhes permitam criar frases por si mesmos sem recorrer a frases aprendidas.

Os métodos gestaltico e analítico não são mutuamente exclusivos se consideram os dois extremos de um continuo. De fato tanto Nelson como Peters indicam que as crianças normais podem mostrar características de ambos métodos em diferentes graus.

Ao parecer o método analítico é o sistema de aprendizagem da linguagem mais comum. Permite uma maior criatividade e flexibilidade que a observada em crianças aprendendo por um método "gestáltico". As crianças que começam com um sistema "gestáltico" podem demorar mais em desenvolver linguagem que as demais, devido ao sistema de processamento que foi usado.

Existem outros investigadores sobre a aquisição da linguagem em crianças normais que estabeleceram diferenças similares como Dore(1974), Clark( 1974,1978,1980).



Ecolalia e métodos gestalticos do processamento da linguagem







Voltando às crianças autistas Prinzant (1983a) propõe como hipóteses de trabalho que os sujeitos autistas possuem um método global , "gestaltico" de processamento da linguagem que constituiria uma variação extrema dentro do continuo normal "gestalt- analitico" de aquisição da linguagem.

As crianças com ecolalia parecem tratar cada frase repetida como uma unidade completa com uma ausência de apreciação da estrutura constituinte interna da linguagem que lhes rodeia (Fay, 1983).

Este sistema de processamento no lhes permite analisar o input de forma analítica em unidades discretas e faz com que tratem as frases que escutam como globalidades, " chunks" não analisados, associados a situações concretas.

Mesmo assim este sistema de processamento pode dar conta das dificuldades para generalizar as frases aprendidas devido a que formam parte da "gestalt" contextual em foram escutadas pela primeira vez.

Com um modelo que apresenta algumas semelhanças com o de Prinzant, Baltaxe e Simmons (1981,1985) consideram a ecolalia como um estratégia alternativa de aquisição da linguagem resultado de um déficit na percepção das características prosódicas da fala ( acento, pautas , inflexões, etc.); déficit que lhes impede analisar e segmentar o fluxo lingüístico continuo à que a criança tem acesso em seus elementos constitutivos (palavras , frases, clausulas).

De acordo com diversos autores ( Garnica, 1977, Bombilian e Cols 1979; citados em Baltaxe e Simmons, 1985) nas primeiras etapas do desenvolvimento da linguagem das crianças normais aproveitam sua percepção dos aspectos prosódicos para segmentar em palavras o continuo fluxo de sons, detectar as palavras conteúdo (principalmente nomes e verbos) e levar a cabo algum tipo de analises que lhes permita determinar as relações forma-conteudo básicas em uma frase.

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